Às vezes fico imaginando se esse ventre me escolheu
ou se fui eu a escolhê-lo. A dualidade com que sempre enfrentei a vida vem da
falta dessa resposta. Sempre gostei do ovo e da galinha porque sei que até hoje
ninguém sabe o que vem primeiro. Me identifico com isso, me sinto menos peixe
fora d´água, principalmente quando se trata de indagações sem réplica. As
lógicas com as quais me justifico podem ser insanas e assim o fiz
propositadamente para que ninguém se aproprie daquilo que é puramente meu. Não
pretendo mudar meu dialeto para que me entendas. Talvez os segredos contidos no
meu “mundo faz de conta” estejam bem na sua cara e sejam tão reais que fazem
com que você seja o devaneador de mim. Por que me interpretas se já o fiz antes
de escrever? Eu sou preto no branco, basta ler!
Passa o tempo, reinvento maneiras de buscar alento
para essa angústia que não cessa. Tento olhar o mundo lá fora sem me colocar
nele, mas acidentalmente, me espalho. Me considero hermética por ser como suas
sete leis, mas a lei da polaridade se tornou meu registro forte: Tudo
é duplo, tudo tem dois polos, tudo tem o seu oposto. O igual e o desigual são a
mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-verdades. Todos
os paradoxos podem ser reconciliáveis.
Se o ventre de minha
mãe me escolheu, então sei que venho de um seio forte. E na fortaleza com que
fui concebida me escondi. Fiquei na torre da princesa, trancafiada por um amor
que logo me deixaria. Minha fortaleza virou cinzas e eu fui vítima e vilã ao
mesmo tempo.
Se eu escolhi aquele
ventre então, fui a fortaleza. Decidi me criar ali mesmo, altiva na certeza de
que ao menos por um tempo, eu seria o tudo de alguém. E então, dona do meu
nariz, fui a guerreira da paz. Guerra, paz...
Ahh essa dualidade
que me embriaga...
Mas existe um fato
que nunca fora revelado em meus livros: de todas as formas, eu salvaria minha
mãe. E salvei. A livrei dos fantasmas do passado, carregando-a por passagens
literárias rumo ao sonho roubado. E ela não morreu. Na verdade, morre quem
fica. Morre pela saudade. E quem morreu, vive, também, pela saudade. Vive no
coração que palpita pela lembrança.
Por isso dizia que
estava morta. Morta de saudade. Mas hoje vivo em paz, sem carregar minha alma,
pois ela ficou leve. Hoje tenho mais de um rosto, mais de um coração. Hoje
exalo vida. E não há porque morrer de saudade. O universo é infinito mas mesmo
assim é um só. E, sendo assim, a distância que existe é apenas uma questão de
perspectiva e fé.
Continuo a mesma
pessoa, mas hoje me considero escritora. E antecipo, estou no meio de uma nova
história!
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