O aprendiz caminhava ao lado do Mestre, quando ao longe avistou uma garça solitária à beira de um lago. Passou um tempo apenas contemplando a ave, que passeava lentamente por entre os galhos. Esperava que a ave estivesse à caça de alimento. O tempo passava e a garça apenas passeava graciosamente para lá e para cá. Eis que o aprendiz se pronuncia:
- Mestre, aquela garça parece perdida. Caminha lentamente e não caça. Deve se sentir triste e solitária.
O Mestre então lhe dirige uma questão:
- Quando você está sozinho, sente-se triste e solitário?
- Não, nem sempre... - responde o aprendiz
- Pois bem, é possível que a garça esteja apenas no estado de solitude. Esse estado não promove o sentimento de abandono atribuído à solidão. Esse estado promove o silêncio interior, a contemplação de si e do mundo. Cada pequeno e lento passo é uma experiência completa. - diz o Mestre
- Entendo... - disse o aprendiz - E como trabalhar essa solitude em um mundo tão conturbado e demandante?
Recolhendo uma folha seca caída ao chão o Mestre responde:
- Absorvendo do presente o que ele pode oferecer com o coração grato. Uma folha seca, apesar de parecer inútil, é capaz de denunciar o movimento do vento. Praticar a solitude em um mundo conturbado não é tarefa fácil, mas à medida que você encontra as próprias palavras para as coisas que acontecem, vai sedimentando no teu ser as lutas pelas quais vale a pena viver.
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