O Ipê da praça
Quanta beleza mal vista há neste mundo? Tantos olhos cegos, passos indiferentes, mãos que deslizam sobre as teclas em tantos dispositivos em prol de ninguém. A inveja é difundida em doses homeopáticas, derramada gota a gota afim de se passar despercebida. O celular apontado para o rosto vaidoso quase registra o tronco do Ipê, frondoso e centenário, um verdadeiro idoso que carrega em seu viver gerações e gerações de bicho e gente. O gigante vitorioso que por sorte não estava no caminho de nenhum prédio, nenhuma casa, viu seu semear ser arrancado, dilacerado, torturado pela motosserra e descartado como lixo. Suas grandes criações, seus milagres e principalmente, seus propósitos estavam agora mortos. Os pássaros que ali repousavam choram a perda de seus ninhos nos ombros amadeirados do solitário Ipê, que na falta dos seus, acolhe os pequenos viajantes também órfãos de seus filhos. Apesar da dor a vida não para. O vento vem, carrega novamente suas sementes, mas o solo se recusa