A magia do espelho
Uma vez eu conheci uma menina doce. Ela inventava passos de ballet sem saber o que era plié ou fondu. Ela simplesmente se entregava ao que vira uma vez pela televisão: lindas meninas vestidas de saia de tutu, rodopiando toda graça e beleza. Ficava hipnotizada com o movimento leve das mãos e punhos, ao que ela associava a plumas de ganso flutuando harmonicamente num sopro suave de vento. O espelho enferrujado do quartinho dos fundos a viu ensaiar algumas vezes. O sol também a viu por minúscula fresta da janela entreaberta, reluzindo num raio o holofote de um palco vazio de gente. Era só ela e a música imaginária, uma mistura de flauta, piano e harpa. Os pés tortos nunca a incomodaram. Ela erguia o calcanhar ao máximo, colocando nos dedos o peso de seu corpinho magro. E apesar do esforço, nada era dor. Com os olhinhos fechados, quase levitava. Vez ou outra ela desequilibrava, mas a queda era parte de um desafio entre ela e um sonho: ser uma bailarina. Encontrou encostada na lateral da v